Imagens da noite — Victor Galdino
Subtítulo: Ensaios sobre raça e racialização
PRÉ-VENDA: de 09/10/24 até 02/12/24
AVISO IMPORTANTE: a pré-venda terá os envios dos pedidos a partir do dia 09/12/24.
No filme Space is the place, o músico-poeta Sun Ra se encontra com um grupo de jovens que, diante de suas estranhas e surreais vestes, de sua aparência outromundana, perguntam se ele é real, se é mesmo quem diz ser e como é possível verificar essa realidade. Ele diz: “Vocês querem saber como posso ser real? Não sou, sou assim como vocês [...] Não vim até vocês como realidade, vim como mito — porque é isso que as pessoas negras são: mitos”. Sua resposta é o ponto de partida — e, após longas voltas, uma série de experimentos e deslocamentos, também é ponto de chegada — deste livro. Tudo começa — e termina — levando a sério a peculiar resposta de Sun Ra, tomando-a como verdadeira em um sentido a ser descoberto. A partir disso, raça é pensada como um assunto propriamente filosófico em sua realidade imprópria, essa ficção que, de alguma maneira, tornou-se não apenas real, mas um meio de produção da realidade.
IMAGENS DA NOITE — Victor Galdino
Imagens da noite: ensaios sobre raça e racialização faz um convite, uma proposta e um retrospecto. Inverso, o caminho é: primeiro, avaliar de maneira crítica um conjunto diverso de produções teóricas estrangeiras, sobretudo os recentes black studies estadunidenses, para submetê-los a um uso filosófico que se nega a apenas a comentar ou tentar importá-los; segundo, sugerir um distanciamento do binarismo negro/branco, recorrendo aos múltiplos caminhos de ser-racializado, dentro e fora das diásporas nas Américas; e, por fim, terceiro, chamar para pensar a raça além do racismo em uma conjura que refigure um mundo. Mas, Victor Galdino não para diante destes três saltos curvos, ele reclama constantemente, nas entrelinhas do texto, por um novo conceito filosófico de raça.
Tudo isso se dá em uma costura que reúne uma multidão de referências que nem sempre estão em sintonia, mas que, ainda assim, podem ser deslocadas na elaboração desse novo mosaico teórico, participando de um todo coerente sem deixar de ser aberto, incompleto.
Trata-se de cinco ensaios com estilos mais ou menos diferentes, uma forma literária sem-forma escolhida pela liberdade de movimentação que oferece. Por isso mesmo, o livro não entrega o que importa, pelo menos não de maneira didática — o que interessa, igualmente, é tudo o que é desprezado: as estranhas voltas que os textos dão, as digressões, as maneiras insubordinadas de composição textual, as colagens muitas vezes impróprias de citações, as corrupções da linguagem... É um livro que demanda uma atenção sensível, uma disponibilidade para participar dos movimentos que as palavras fazem. A exigência, afinal, nos usos filosóficos da linguagem, não é a captura de um conteúdo mais ou menos assimilável, mas uma série de deslocamentos na forma de pensar o assunto proposto. Pois bem, aqui o experimentum acontece enquanto a escrita se materializa nos esforços dos caminhos do pensamento e não quando encontra ela mesma a maneira de representar aonde se chegou.
Por isso, os ensaios deste livro passam por temas clássicos da história da filosofia: a relação entre o um e o múltiplo, ser e entes, essência e existência; o conceito de eu, a questão da liberdade, a natureza do real, o problema da verdade, dentre outros. Não sem passar por outros campos e pô-los em relação, como a psicanálise, a história, a sociologia e a antropologia, tanto para informar essas meditações em diferentes estilos ensaísticos quanto para realizar uma série de apropriações e expropriações das ditas “verdades universais”.
A vocação da filosofia nunca foi oferecer respostas, mas repensar as perguntas, propor maneiras novas de lidar com as coisas que nos interessam, ou até propor novos objetos de interesse. A oferta é a seguinte: e se pensássemos raça como se fosse isso ou aquilo? Para onde isso nos levaria? É um convite que pode ser recusado. Tudo bem: nele não há verdades factuais que urgentemente precisássemos saber, a não ser as que são usadas como meios para outros fins, caminhos da inverdade. Além disso, não há forma de pensar que sirva para toda e qualquer pessoa.
É por meio desse exercício puramente filosófico que Victor Galdino nos oferece, então, inúmeras imagens da noite: uma análise crítica dos modos sombrios de ser-imaginal que emanam do lado noturno da psique, das representações imagéticas que os acompanham.