Como realizadora e formadora, a GLAC edições desenvolve diversos projetos vinculados aos seus livros, tanto a fim de engendrar caminhos de percepção acerca dos conteúdos radicais contidos nas ideias dos diversos tipos de autores que publica, quanto com o genuíno desejo de fazer circular as mesmas ideias com e para outros e novos públicos. Por isso, pensar, propor e produzir exposições de arte – meio de fruição para o exercício do experimento de um livre pensamento – é também constituir caminhos possíveis para ler, debater e praticar autonomias coletivas e incutir publicamente a autodeterminação de realizações comunitárias de novos "mundos" em futuros materializáveis.
ANTILINHA DA CURVA
ANTILINHA DA CURVA é uma exposição de arte contemporânea concebida e produzida pela GLAC edições em parceria com a Diáspora Galeria, realizadora do projeto, com curadoria da pesquisadora Thais de Menezes, que tem como ponto de partida o livro Tudo incompleto, de Fred Moten & Stefano Harney, lançando em novembro de 2023, em que o artista brasileiro Silvio De Camillis Borges e o fotógrafo alemão Zun Lee dialogam sobre o desmoronamento do corpo no capitalismo colonial atual e também propõem o gesto serpenteado como vingança coletiva.
Vistas da exposição
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Registro fotográfico: Estúdio Em Obras
O raio de uma curva determina os pontos cegos existentes na mesma, assim também a altura de quem a observa é determinante. Não obstante, a dobra mantém uma angulação que pode variar de 01 a 359 graus, supondo a possibilidade de observação de um lado e do outro. Já a curva de raio grandioso pode até mesmo induzir a percepção de estarmos em uma linha reta sem perceber que, na verdade, ainda estamos em uma parte aberta da curva. Percorrer uma curvatura corresponde, então, à presença da dissimulação e ao experimento dos pontos cegos, que se reflete na falta da totalidade e, consequentemente, na possibilidade de movimentos disruptivos e ações inesperadas.
É na dobra desse pensamento que, como um agente impulsionador, o livro Tudo incompleto, dos autores Fred Moten & Stefano Harney, — com prefácio à edição brasileira de Victor Galdino e viníciux da silva, prefácio de Denise Ferreira da Silva, posfácio e intervenção fotográfica de Zun Lee, e que também conta com a intervenção artística de Silvio De Camillis Borges, publicado pela GLAC edições — instiga a feitura da exposição Antilinha da Curva.
Operando nas fissuras e nos desmantelos políticos, sociais, econômicos e raciais, cuja enunciação se apresenta em gestos (des)coreografados, os dois artistas se inserem no ponto cego da curva, numa virada que acontece e se vinga no prazer atento, anunciado no corpo e pelos corpos apresentados nas obras.
O título da exposição toma a ideia apresentada no livro sobre "a nova poética da antilinha", que se entende, ou melhor, se vive no avesso, na dobra que desalinha a produtividade das ideias que estavam postas e se refazem no desacordo. Na exposição, essa treta está inserida no movimento da curva, cuja sinuosidade revela a pergunta: Como suportar, no corpo, o anúncio de uma subversão sistêmica?
Zun Lee transita com a fotografia no disparate da vida e na abertura dos acordos que divergem da hegemonia, retomando na cotidianidade diferentes decisões que colocam em xeque o estado de diversão desatenta e a ideia vitruviana das medidas perfeitas do corpo. Enquanto Silvio De Camillis Borges, em sua investigação com desenhos, ferro e pó de grafite, anuncia o esfacelamento do gesto repetitivo treinado no achatamento das subjetividades, denunciando, com isso, a funcionalidade logística existencial, tal qual o livro nos deflagra. O artista apresenta um corpo laboral desvencilhado do objeto de trabalho, dinamizando-o na construção dos gestos e texturas que se realizam na expressão das sutilezas e subjetividades do indivíduo plasmado, na imagem e pelo trabalho.
Em Antilinha da Curva, o diálogo entre os dois artistas desemboca em táticas de sobrevivência, que se renovam por meio de desacordos e sabotagens sistêmicas contra-hegemônicas, apresentadas numa virada inesperada e maliciosa de quem se curva em preparação para o contragolpe, estabiliza-se em outro eixo e retoma na disfuncionalidade dos objetos de labor a anunciação das aberturas dos corpos.
Dessa maneira, o exercício aqui é manter um molejo desregulado para que o raio das curvas possa serpentear, dinamizando as tomadas e retomadas de conflitos como disparadores sensíveis nos pontos cegos de um pensamento curvado. Que o gesto seja a chance de dissimulação do desmoronamento do corpo numa vingança coletiva, está prescrito.
— Thais de Menezes
Thais de Menezes é curadora independente e vive entre São Paulo e Barcelona. Participa atualmente do Programa de Estudos Independentes do Museo de Arte Contemporáneo de Barcelona, onde também atua como Investigadora Residente.
Trabalhos de Silvio De Camillis Borges
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Registro fotográfico: Estúdio Em Obras
Silvio De Camillis Borges é artista e arthandler, seus trabalhos tensionam oembate entre o labor, o corpo eas ferramentas a fim de pensarpoeticamente os processos dedesterritorialização das identidades e
do achatamento das subjetividades.
Fotografias de Zun Lee
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Registro fotográfico: Trim Produções
Zun Lee é médico e fotógrafo, explora os espaços cotidianos de sociabilidade, intimidade e pertencimento dos negros, espaços onde a narração de histórias pode prosperar como uma prática insurgente. Ele costuma tirar fotos para lembrá-lo de como ser grato.
Intervenção de Silvio de Camillis Borges nas cópias de Tudo incompleto, de Fred Moten & Stefano Harney
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Registro fotográfico: Trim Produções
O livro Tudo Incompleto, de Fred Moten & Stefano Harney, recebeu uma intervenção feita a mão em grafite pelo artista Silvio De Camillis Borges, qual desenhou "uma mão que segura um instrumento invisível no refilo (miolo) de todos os exemplares impressos unidos", como mostra as imagens acima. É possível então que o leitor suje as pontas dos dedos, se não as mãos inteiras, de cinza ao folear o livro, e com isso manche outras páginas, objetos e locais — isto é proposital. O leitor pode ter em mãos um milésimo do desenho do artista: foram impressos mil livros na primeira edição e tiragem. A intervenção do artista foi apresentada durante a abertura da exposição e, em seguida, desmontada para cumprir com a distribuição dos livros pela editora.
Desenho expográfico realizado pela curadora, Thais de Menezes
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Design gráfico: GLAC edições
1. Silvio De Camillis Borges
Aviso prévio, 2022, ± 95 cm, cada peça, faca forjada em puxador de porta de enrolar
2. Zun Lee
Sem título #1, 2021, 61 x 85 cm, impressão fotográfica em papel Epson 100% algodão
3. Silvio De Camillis Borges
O chapa - versão de chão, 2023, 46 x 15 x 4 cm, pinos de baioneta e imã ferrite
4. Zun Lee
Sem título #2, 2021, 61 x 85 cm, impressão fotográfica em papel Epson 100% algodão
5. Silvio De Camillis Borges
Sabor de água nos lábios secos dos cansados, 2023, 49 x 49cm, grafite em pó, tinta spray e acrílica sobre lona
6. Zun Lee
Sem título #3, 2021, 61 x 92 cm, impressão fotográfica em papel Epson 100% algodão
7. Zun Lee
Sem título #4, 2021, 61 x 85 cm, impressão fotográfica em papel Epson 100% algodão
8. Silvio De Camillis Borges
O chapa, 2023, 46 x 15 x 4 cm, pino de baioneta e maciço de latão
9. Silvio De Camillis Borges
Jogo de dentro, 2023, 27 x 33 cm, grafite em pó sobre papel
10. Zun Lee
Sem título #5, 2021, 61 x 85 cm, impressão fotográfica em papel Epson 100% algodão
Intervenção de Zun Lee no interior de Tudo incompleto, de Fred Moten & Stefano Harney
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Registro fotográfico: GLAC edições
O artista Zun Lee ofertou vinte e três fotografias para a edição do livro Tudo incompleto, dezenove delas foram utilizadas a fim de manter a verossimilhança com a edição original do livro, em que as imagens deliberadamente intervêm no corpo do texto de Fred Moten & Stefano Harney. Ainda, das vinte e uma fotografias aplicadas no original estadunidense (Minor Compositions, 2021) duas não foram utilizadas na edição brasileira, elas pertencem a outros fotógrafos em que não tivemos contato. Na edição brasileira da GLAC edições, as imagens são propostas como parágrafos em meio ao texto, pensadas para serem lidas, sem necessariamente ilustrarem qualquer passagem.
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Diáspora Galeria — Av. Rebouças, 2915, São Paulo - SP
Abertura — 18 de novembro e 2023 — 14h às 19h
Conversa — 15 de novembro e 2023 — 15h30 — * com o artista Silvio De Camilles Borges, os autores Fred Moten & Stefano Harney e os tradutores do livro Victor Galdino e viníciux da silva.
Visitação — até 27 de janeiro de 2023